space in film and architecture conferência de Thom Andersen Casa da Música : Porto : 9 de Janeiro : 22h (entrada paga)
Um dos mais secretos realizadores do cinema americano, Thom Andersen – que vive em Los Angeles desde a nascença –, tem uma longa carreira pontuada com trabalhos seminais sobre a paisagem física da sua cidade. O seu filme mais recente, “Get Out of the Car” – exibido em Portugal na competição internacional do Curtas Vila do Conde, em 2011, onde venceu o prémio de melhor documentário e com passagem por vários festivais internacionais como Locarno, Toronto, Vancouver, Roterdão, ou Buenos Aires – é uma curta-metragem que revisita lugares específicos da paisagem de Los Angeles, recuperando velhos símbolos culturais da cidade, numa espécie de arqueologia urbana. Ao mesmo tempo, a banda sonora resgata uma longa tradição musical: os fragmentos musicais compõem um mapa impressionista da música popular feita na cidade (e noutros lugares) entre 1941 e 1999, com relevo para o rhythm’n’blues e o jazz da década 50 e os corridos da década de 90 (com destaque para a música de Richard Berry, Johnny Otis, Leiber and Stoller e Los Tigres del Norte).
Esta curta não é mais do que um prolongamento do programa arqueológico de Andersen que tem a sua apoteose na mais conhecida e premiada obra do realizador: “Los Angeles Plays Itself”, de 2003 (com este filme ganhou o prémio do National Film Board para Melhor Longa-Metragem Documental no Vancouver International Film Festival, e foi eleito um dos melhores documentários de 2004 pelo Village Voice). Ambos são sinfonias de uma cidade: a Los Angeles natal de Andersen. Se “Get Out of the Car”, filmado em 16mm, o realizador procura, obsessivamente, sinais exteriores de uma cidade perdida (grandes outdoors vazios; graffitis nas paredes, anúncios publicitários, letreiros de lojas, fachadas de edifícios e lugares anónimos onde perduram vestígios de referências culturais desaparecidas como o estádio El Monte Legion e o clube de blues, Barrelhouse, em Watts), em “Los Angeles Plays Itself”, Andersen colecciona extractos de filmes das mais variadas proveniências, notando as marcas da cidade no imaginário visual do mundo contemporâneo e a forma como o cinema alterou a percepção da cidade. O filme nunca foi exibido comercialmente, devido a restrições dos direitos autorais, mas tem sido mostrado em festivais ou sessões especiais.
Na filmografia de Andesern contam-se, no entanto, outros filmes. Na década de 1960, realizou várias curtas-metragens, incluindo “Melting” (1965), “Olivia’s Place” (1966), e “--- -------“ (1967, com Malcolm Brodwick). Em 1974, terminou “Eadweard Muybridge, Zoopraxographer”, um documentário de uma hora a partir do trabalho fotográfico de Muybridge. Em 1995, com Noël Burch, faz “Red Hollywood”, um filme sobre o trabalho audiovisual criado pelas vítimas da Blacklist de Hollywood. O seu trabalho sobre a história da Blacklist também resultou num livro, “Les Communistes de Hollywood: Autre chose que des martyrs”, publicado em 1994.
Nesta conferência, dedicada ao espaço na arquitectura e no cinema, Thom Andersen fará uma análise da sua própria obra – no que diz respeito a esta relação ontológica entre o olhar das imagens em movimento sobre os espaços arquitectónicos – e projectará o seu trabalho futuro: um filme sobre a arquitectura portuguesa no contexto da celebração dos vintes do Curtas Vila do Conde. A paixão pela arquitectura numa paisagem urbana, em Thom Andersen, revelará essa relação criadora entre a cidade e o cinema. No contexto desta conferência, será exibido, integralmente, a curta “Get Out of the Car” e excertos de outras obras do realizador.
Professor do mítico California Institute of the Arts desde 1987, Thom Andersen é um dos mais luminosos realizadores do cinema contemporâneo. Esta será uma oportunidade única para o ouvir falar sobre a sua obra e sobre o impacto da arquitectura da cidade na paisagem audiovisual.
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