Organizado como o evento cultural contínuo, o Estaleiro foi um projeto especial da Curtas Metragens CRL (a equipa que organiza o Curtas Vila do Conde – Festival Internacional de Cinema há vinte anos) e iniciou-se em janeiro de 2011. Pretendeu ser uma plataforma contínua de programação cultural, estruturada em diferentes eixos: Animar, Campus, Cinema Expandido e Concertos. Durante estes cerca de dois anos, o Estaleiro produziu diversos filmes, organizou workshops a masterclasses (tanto para um público infantil como para um público universitário), montou, entre outras, as exposições “Mundo Aardman” e “Stereo”, e proporcionou diversos concertos na cidade de Vila do Conde.
Foram 24 meses de atividade direcionados para o desenvolvimento regional, afirmação das potencialidades dum sector, o cinema e o audiovisual, focada na região norte e na cidade de Vila do Conde através do apoio e incentivo à criatividade e à produção artística, criando saber, formando equipas, postos de trabalho sazonais, participando dum esforço tão revitalizador quanto necessário para a economia local e por isso incentivador de novas oportunidades de negócio e de trabalho em rede a partir de Vila do Conde.
Durante estes dois anos foram muito os momentos especiais.
Recordamos a encomenda aos Clã para a criação de um espetáculo original pensado para crianças. Depois de muitas visitas a escolas, os Clã apresentaram esse espetáculo ao vivo, em janeiro de 2011, para três sessões esgotadíssimas. Este espetáculo foi transformado em álbum pela banda e foi escolhido como um dos discos do ano para o Blitz. Foi um arranque certo para um projeto que pretendia ser também uma marca na criação de novos públicos (e que continuariam com as dezenas de ateliers montados nas escolas). Este foi um objetivo central do programa Animar, cuja atividade se prolongou por uma das exposições mais visitadas de sempre em Vila do Conde: o “Mundo Aardman”. Herdeiros da melhor animação inglesa, os estúdios Aardman trouxeram à Solar uma parte da sua iconografia mais conhecida: a dupla Wallace & Gromit ou a Ovelha Choné.
Foi também um desígnio de formação de recursos técnicos que compôs o programa Campus, agora no contexto do ensino universitário. Durante os últimos meses, várias equipas de rodagem passaram por diversos ícones da região norte: Gerês, Vale do Ave, Varziela ou Caxinas, proporcionando novos pontos de vista sobre as realidades locais. O imaginário da região ficou assim mais rico e registado para memória futura. Estes filmes que apresentaram a região e a cidade foram convidados a integrar festivais internacionais como Locarno, Rio de Janeiro, Sevilha, Pamplona, Nova Iorque, Doclisboa, Berlim (em Janeiro próximo). Estes 8 projetos que produzimos no programa a tradição em transição formaram, assim, um conjunto de diferentes abordagens cinematográficas e duma riqueza cultural muito bem expressa.
Os cerca de 60 jovens que passaram pelas equipas técnicas destes filmes são habitantes da região e saíram recentemente da universidade de cursos orientados para o audiovisual tendo integrado uma equipa dirigida por um realizador profissional, tornando-se uma primeira experiencia de trabalho inesquecível.
Podemos também recordar as salas cheias de estudantes ávidos por conhecer melhor o trabalho de vários cineastas, diretores de fotografias, montadores ou argumentistas. Aí consolidou-se um longo trabalho formativo do ensino universitário do Norte. Foi uma improvisada mas surpreendente escola de cinema.
Sinal da criação emergente contemporânea, o programa Cinema Expandido foi pensado como ponte do Estaleiro com as novas contaminações do cinema com outras artes. Foi esse o principal tema da Exposição Stereo, que juntou vários músicos com artistas e cineastas na criação de obras originais para o contexto da galeria Solar. O momento criativo do Stereo proporcionou novas experimentações de autores reconhecidos como The Legendary Tigerman, João Salaviza, Gabriel Abrantes, Bruno de Almeida ou João Onofre. Esta exposição e os filmes dela resultantes foram escolhidos para inúmeras participações em festivais de cinema internacionais. Também neste contexto, Alexandre Estrela montou uma exposição do seu trabalho mais recente.
Finalmente, pensados como momentos de celebração, os Concertos encheram o Teatro Municipal de Vila do Conde com uma escolha eclética de vários músicos importantes no atual contexto musical. Entre outros, passaram por Vila do Conde bandas e músicos como Young Marble Giants, Tinariwen, Twin Shadow, Father John Misty, Dead Combo, Rodrigo Leão ou Arto Lindsay.
Entre concertos, exposições, ateliers, workshops, masterclasses, produção de filmes, espetáculos, passaram pelo Estaleiro mais de 30 mil pessoas, envolvendo todos os estratos etários e públicos muito diversos. Entre os diversos números do Estaleiro, podemos destacar:
- 30000 pessoas passaram pelas nossas atividades
- 16 filmes produzidos
- 25 concertos
- 14 workshops e masterclasses
- 3 exposições
- mais de 30 ateliers nas escolas e cerca de uma centena de visitas guiadas às exposições
- 40 alunos de cinema e audiovisual participaram nas produções Campus (a partir de uma seleção de cerca de 200 currículos)
Este ciclo de programação de 24 meses, trouxe à cidade uma agitação cultural diferente e que abre possibilidades para o futuro, através de uma nova dinâmica de programação dos espaços da cidade (Solar, Centro de Memória, Teatro Municipal) e das parcerias estabelecidas (escolas básicas e secundárias; universidades e institutos politécnicos). Serve também de inspiração para novos projetos que a Curtas Metragens CRL quer promover no futuro.
Para além disso, o comércio local beneficiou com esta atividade e com a capacidade desta cidade dinamizar um projeto voltado para uma área em franco desenvolvimento. Isso resultou, na afirmação de Vila do Conde como um destino de turismo e de criação, um lugar com identidade onde se produz conhecimento, onde existe atividade artística. O cinema, que neste preciso momento se encontra em fase de afirmação internacional reconhecida, pode ser uma oportunidade para dar continuidade num futuro próximo. Assim o desejamos....
A hipótese da criação de uma micro empresa de produção Estaleiro com todos os benefícios para a cidade passou de uma miragem a uma forte hipótese de trabalho futuro contra ventos e marés de crise económica generalizada.
Para fixar o longo percurso do projeto Estaleiro, será editado um livro que se centra na dinâmica de produção e formação de cinema, mas que também servirá como arquivo dos eventos programados.
Correndo o risco de esquecermo-nos de alguém nesta imensidão de pessoas e instituições que tornaram o Estaleiro possível, queremos agradecer:
- aos principais apoiantes financeiros do projeto: QREN, no âmbito do Programa Operacional Regional do Norte (ON.2) e Câmara Municipal de Vila do Conde;
- a todas as escolas secundárias e básicas da região que proporcionaram novas experiências a crianças e jovens;
- às universidades que connosco trabalharam no Campus, em especial a Universidade Católica Portuguesa e o Instituto Politécnico do Porto
- às instituições culturais de Vila do Conde que connosco colaboraram: Teatro Formas Animadas, Circular – Festival de Artes Performativas
- a todos os estudantes dessas universidades que marcaram presença nas nossas formações;
- a todos os estudantes que fizeram parte das equipas de rodagem dos filmes Campus;
- a todos os artistas, músicos e cineastas que embarcaram connosco nesta aventura;
- a todos os fornecedores e prestadores de serviços que trabalharam connosco;
- aos espaços e aos recursos humanos que albergaram programação do Estaleiro: Teatro Municipal de Vila do Conde, Centro de Memória de Vila do Conde;
- à imensa equipa da Curtas Metragens CRL